sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Oscar 2009: Clint Eastwood, a injustiça deste ano

Do site CineClick

Por Heitor Augusto

Como qualquer premiação, o Oscar comete equívocos, injustiças e, por muitas vezes, premia filmes por fatores extracinematográficos. Como explicar, por exemplo, a cegueira da Academia com a sátira política de Tempos Modernos (1936) ou a negação à crítica ferrenha de Cidadão Kane (1941)? Na edição de 2009, a cegueira atingiu Clint Eastwood, que merecia indicações em, pelo menos, quatro categorias, todas por Gran Torino.

Comecemos pela categoria Melhor Filme. Eastwood concebeu um personagem que é certamente um dos melhores já escritos. Walter Kowalski carrega em si uma ironia ao que é ser um americano conservador que discrimina estrangeiros. Kowalski, ao longo do filme, tem a possibilidade de redenção, o que não é nenhum segredo. Porém, os caminhos para chegar até lá, a intensidade da mudança e, especialmente, a maneira de fazê-la são simplesmente impressionantes, mesmo que irreais. Eastwood constrói um personagem de cinema e o encerra com um final que merece ser chamado de "cinematográfico".

Porém, a Academia não deixa de, sempre que tem oportunidade, indicar algum filme que use o nazismo como pano de fundo, um dos filões mais explorados do cinema. Assim, O Leitor, com um elenco estrelar (Kate Winslet e Ralph Fiennes) e a direção do já indicado Stephen Daldry (As Horas e Billy Elliot), entrou. E as indicações deste ano também reiteram que a Academia também gosta de cinebiografias tradicionais: ao fazer um filme mais sóbrio, Gus Van Sant e seu Milk - A Voz da Igualdade, um retrato do primeiro político gay assumido nos EUA, receberam indicações; quando mergulhou em uma viagem alucinante em Últimos Dias, retrato pouco convencional de Kurt Cobain, a Academia fingiu que não viu.

Melhor Ator
Se Walter Kowalski é o que é, parte de sua vida depende da interpretação de Eastwood, que transita com tremenda folga na pele do personagem. O ator absorveu o que Harry Callahan de Dirty Harry tinha de melhor para nos presentear com um anti-herói. Seu personagem não é linear e, por muitas vezes, o silêncio é mais importante que o texto. Mas a Academia resolveu surpreender e dar a primeira indicação da carreira de Richard Jenkins, de The Visitor. Será que foi um gesto de aplauso para o primeiro protagonista que o ator interpretou em 35 anos?

Um parênteses: Sally Hawkins, de Simplesmente Feliz, não repetiu a premiação no Globo de Ouro e sequer foi indicada a Melhor Atriz Coadjuvante. Seria porquê a Academia não é muito chegada em comédias?

Melhor Direção
Clint Eastwood, que em 2005 ganhou as estatuetas de Direção e Filme por Menina de Ouro, também passou em branco nas indicações da Academia para diretor. Neste ano, todos as produções indicadas a Melhor Filme tiveram seus respectivos diretores também indicados.

Isso, porém, não é uma regra, ao menos na última década. Nas últimas oito edições do Oscar, em apenas uma, a de 2006, todos os filmes tiveram seus diretores indicados. No meio do caminho, David Lynch foi indicado em 2002, mas Cidade dos Sonhos não; Fernando Meirelles, em 2004, foi indicado, mas Cidade de Deus ficou de fora; ou Julian Schnabel, ano passado, que foi indicado, mas O Escafandro e a Borboleta foi preterido pelo "quadrado" Desejo e Reparação.

Portanto, haveria espaço, sim, para uma merecida indicação de Eastwood como diretor, mesmo que Gran Torino ficasse de fora de Melhor Filme.

Melhor Canção
Para encerrar, falemos da categoria que no ano passado premiou a simpática Falling Slownly, do canadense Apenas Uma Vez. Neste ano, Quem Quer Ser um Milionário? ganhou duas indicações e Walle-E, uma.

O Saya, do filme anglo-indiano, é extremamente hábil em captar a atmosfera dos favelados de Mumbai a que se refere o título original do filme. Só que a Academia se empolgou demais com o clima West Side Story dos créditos finais do longa e resolveu colocar também Jai Ho.

Se O Saya é o símbolo da atmosfera de Quem Quer Ser Um Milionário?, a canção Gran Torino carrega todo o significado do longa de Clint Eastwood. Uma tremenda injustiça deixá-la de fora.


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